A história de Paris teve um passado mal cheiroso e sujo até ser ordenada a remodelação da cidade, no século 19.
George-Eugène Haussmann, o chefe de departamento de Paris (uma espécie de prefeito), um homem que não entendia nada de arquitetura ou urbanismo, foi convocado pelo imperador para reconstruir Paris.
Um ato insano para alguns, uma salva de palmas para outros. Foram 20 anos de obras, onde Haussmann derrubou centenas de prédios, destruiu bairros, e mudou o perfil da cidade, inspirando-se em Roma e Londres.
Foi dele e de Napoleão 3º, a ideia de rasgar grandes avenidas (Haussmann por uma questão estética e Napoleão, imaginando que as tropas pudessem descer o Champs-Élysées).
Também surgiu a ideia de criar grandes quarteirões de calçadas largas, cercadas por fileiras de edifícios neoclássicos cor de areia, impecavelmente alinhados, plantar alamedas de plátanos, e parques e praças por toda a cidade.
Fazer o Bois de Boulogne, o maior bosque da cidade, inspirando-se no Hyde Park de Londres, e erguer a Ópera de Paris.
Foi a dupla que projetou um sistema de esgoto abrangente, um novo aqueduto para dar acesso a água potável e doce para todos, e uma rede de canos de gás subterrâneos para iluminar ruas e prédios, para falar o mínimo.
Foram tantos os gastos, que Haussmann acabou sendo despedido da função, mas suas ideias seguiram sendo aplicadas até o começo de 1920, inclusive a primeira linha do metrô, datada de 1900.
O resultado do projeto de Haussmann foi tão primoroso, que nem mesmo Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial, ousou bombardear a cidade, que ocupou por quatro anos como sede de seu governo.
Quando a guerra já estava perdida para a Alemanha, num último ato de insanidade, Hitler mandou incendiar Paris. Foi desobedecido por seu comandante Major General Dietrich von Choltitz (cena que pode ser vista no filme “Paris está em Chamas?”): Paris era bonita demais para ser destruída.
Os anos foram aprimorando a obra de Haussmann, modernizando o metrô, criando novas estações, expandindo os limites da cidade para abrigar novos e modernos bairros.
Enquanto a bela cidade do filme “Paris pode esperar” foi se sofisticando no modo de viver, na gastronomia, ditando moda; se intelectualizando, atraindo escritores, pintores, poetas, filósofos, estudiosos; se politizando (é famoso o movimento estudantil de 1968); e se modernizando (o novo eco bairro no 17eme é um exemplo), sem, jamais, perder a majestade.
Curiosidade: Apesar de toda a reclamação de intelectuais chorando a perda da “Paris de Voltaire”, o plano de Haussmann, que derrubou a própria casa onde nasceu, na rua Faubourg-du-Roule, era tão impecável que sobrevive até hoje.