“Sempre teremos Paris”, diz Humphrey Bogart para Ingrid Bergman, em uma das cenas finais do clássico filme Casablanca.
Imortalizada pelo cinema, teatro, música e pela literatura, Paris nunca perderá a magia e o glamour, não importa quão tecnológicas e interessantes sejam as cidades das altas torres de vidro que arranham os céus e as piscinas suspensas.
Paris é uma cidade para ser descoberta a pé (tirando Montmartre, ela é toda plana), flanando pelas ruelas de bairros antigos como o Marais, restaurado há algum tempo, subindo o Champs-ÈlysésSaint, a elegante Avenue Foch, pelas ruinhas de Germain des Prés.
Ou pelas largas avenidas cercadas por edifícios neoclássicos alinhados e proporcionais, que escondem pátios internos, moradias, escritórios, ateliês de artistas, maisons de couture.
Paris foi feita – sim, porque foi o imperador Napoleão Bonaparte 3º, que ordenou a reconstrução da cidade, até então suja, feia e fedida – para ser admirada.
E ela tem aquele je ne sais pas quoi que faz com que, para qualquer lado que se olhe, provoque um oh! Serão as perspectivas impecáveis que pouca gente percebe?
Como olhar do Obelisco da Place de la Concorde para o Champs-Èlysées e descobrir uma linha reta, onde tudo é simétrico, e a vista é capaz de alcançar o Arco do Triunfo e além?
Ou perceber a posição exata em que está a Torre Eiffel para que seu entorno possa ser curtido? Descobrir que a Place Vendôme é reduto das melhores joalherias do mundo?
Que atravessando o rio Sena, para a Rive Gauche, se encontram bairros completamente diferentes, feitos de um emaranhado de pequenas ruas tortuosas, que um dia foi boêmio e hoje é cool?
E que há muito mais para se descobrir, desde pequenas igrejas, largos, fontes, praças, lojinhas descoladas, e petits bistrôts perfeitos para sentar nas mesinhas da calçada, tomar um café ou uma taça de vinho, para acompanhar uma baguette jambon et fromages e ver a vida passar, sem pressa?
A Paris que a HIGH mostra não privilegia os pontos turísticos, já tão conhecidos, mas fala do que é cool pós-pandemia, com a ajuda preciosa de Helena Fleury, uma brasileira que vive há dez anos em Paris, é casada com um francês e completamente apaixonada pela Cidade-Luz.
História de Paris: a grande reconstrução
A história de Paris teve um passado mal cheiroso e sujo até ser ordenada a remodelação da cidade, no século 19.
George-Eugène Haussmann, o chefe de departamento de Paris (uma espécie de prefeito), um homem que não entendia nada de arquitetura ou urbanismo, foi convocado pelo imperador para reconstruir Paris.
Um ato insano para alguns, uma salva de palmas para outros. Foram 20 anos de obras, onde Haussmann derrubou centenas de prédios, destruiu bairros, e mudou o perfil da cidade, inspirando-se em Roma e Londres.
Foi dele e de Napoleão 3º, a ideia de rasgar grandes avenidas (Haussmann por uma questão estética e Napoleão, imaginando que as tropas pudessem descer o Champs-Élysées).
Também surgiu a ideia de criar grandes quarteirões de calçadas largas, cercadas por fileiras de edifícios neoclássicos cor de areia, impecavelmente alinhados, plantar alamedas de plátanos, e parques e praças por toda a cidade.
Fazer o Bois de Boulogne, o maior bosque da cidade, inspirando-se no Hyde Park de Londres, e erguer a Ópera de Paris.
Foi a dupla que projetou um sistema de esgoto abrangente, um novo aqueduto para dar acesso a água potável e doce para todos, e uma rede de canos de gás subterrâneos para iluminar ruas e prédios, para falar o mínimo.
Foram tantos os gastos, que Haussmann acabou sendo despedido da função, mas suas ideias seguiram sendo aplicadas até o começo de 1920, inclusive a primeira linha do metrô, datada de 1900.
O resultado do projeto de Haussmann foi tão primoroso, que nem mesmo Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial, ousou bombardear a cidade, que ocupou por quatro anos como sede de seu governo.
Quando a guerra já estava perdida para a Alemanha, num último ato de insanidade, Hitler mandou incendiar Paris. Foi desobedecido por seu comandante Major General Dietrich von Choltitz (cena que pode ser vista no filme “Paris está em Chamas?”): Paris era bonita demais para ser destruída.
Os anos foram aprimorando a obra de Haussmann, modernizando o metrô, criando novas estações, expandindo os limites da cidade para abrigar novos e modernos bairros.
Enquanto a bela cidade do filme “Paris pode esperar” foi se sofisticando no modo de viver, na gastronomia, ditando moda; se intelectualizando, atraindo escritores, pintores, poetas, filósofos, estudiosos; se politizando (é famoso o movimento estudantil de 1968); e se modernizando (o novo eco bairro no 17eme é um exemplo), sem, jamais, perder a majestade.
Curiosidade: Apesar de toda a reclamação de intelectuais chorando a perda da “Paris de Voltaire”, o plano de Haussmann, que derrubou a própria casa onde nasceu, na rua Faubourg-du-Roule, era tão impecável que sobrevive até hoje.
Novidades da cidade de Paris
A mais famosa e charmosa avenida vai ganhar roupa nova e um novo eco bairro no 17eme, para completar as novidades da cidade de Paris.
É fato que a Avenue Champs-Élysées perdeu parte de seu glamour nas últimas três décadas.
Para devolver esse esplendor, um grupo de empresários e líderes comunitários propuseram, em 2018, um projeto de remodelação para a famosa avenida. Em 2019, as últimas alterações foram aprovadas pela prefeita de Paris Anne Hidalgo. Mas não imagine que na sua próxima viagem você vai encontrar uma nova Champs-Élysées.
A transformação está prevista para começar depois dos Jogos Olímpicos de 2024, e a proposta é transformar cerca de dois quilômetros em um imenso jardim, reduzindo o espaço para carros, e criando vias para pedestres, áreas verdes e corredores verdes para melhorar a qualidade do ar.
Philippe Chiambaretta, da PCA-Stream, é o arquiteto responsável pelo projeto que custará cerca de 250 milhões de euros. No pacote de mudanças está redesenhar, também, a Place de la Concorde e ficar pronto até 2030.
Amantes de Paris devem se preocupar, como se preocuparam os intelectuais com as ousadias de Haussmann, ou relaxar e se deixar levar pelos novos tempos? A pirâmide do Louvre, que causou muita controvérsia à época da construção, parece ter estado lá desde sempre…
Nasce um eco bairro au dehors Paris
São poucos os estrangeiros que se aventuram além dos muros da cidade. A periferia não tem o charme da Paris central, mas vale a pena saber que, no 17eme, mais precisamente em Clichy-Batignolles, está surgindo um projeto de renovação urbana com previsão de construção de 500 mil metros quadrados no entorno do Parque Martin Luther King, já quase todo construído.
A ideia é que o novo eco bairro, concebido pelo arquiteto e urbanista François Grether e a paisagista Jacqueline Osty, seja um modelo de desenvolvimento urbano sustentável, mesclando funcionalidade e social.
Redução de emissão de carbono, rede elétrica inteligente, diminuição dos gastos com aquecimento, e outras medidas visam respeitar o Acordo de Paris (esforço internacional para a diminuição do aquecimento global), e preparar a cidade e o país para cortar mais de 30% de emissão de gases de efeito estufa, até 2030. Um grande passo rumo a preservação do planeta.
Lugares em Paris: o point do momento
Você conhece o Canal Saint Martin em Paris? Pelo menos já ouviu falar? Pois devia…
O Canal Saint Martin e todo seu entorno são the must go do momento, se você é descolado. Ele é um braço de rio que se encontra, na altura do 10eme, com o rio Sena e que tem em seus mais de quatro quilômetros de margens, um bairro super cool, com pontes, bistrôs, bares, cafés e lojinhas que só existem lá, além de atrações como o Palais des Glaces, o Jardin Villemin e a praça da Bastilha.
Cada vez mais famoso e procurado, o Canal pode ser considerado a versão século 21 do Marais dos anos 1980, e também o queridinho dos “BoBos” (boêmios-burgueses que gostam de levar uma vida mais alternativa).
Uma nova geração transada e ascendente, que gosta de conviver, lado a lado, com herdeiros de famílias tradicionais, imigrantes de primeira e segunda geração, ricos, pobres, lojas bacanas, outras nem tanto, bares de chefs estrelados ao lado de padarias mais caidinhas, centros de design moderníssimos, num misto vivo e real.
Ah! E a noite bomba. Por esse perfil eclético de edifícios confortáveis e reformáveis, os investidores estão de olho nesse novo 10eme, que tem, também, hotéis simpáticos.
Os points mais procurados do Canal, além da avenida que corre ao lado do rio, são o bar Chez Prune, com uma decô clássica e a cara de Paris, e o Le Point Ephémère, instalado em um antigo armazém industrial, que funciona como centro cultural, bar e restaurante.
Além da avenida, a Rue de Marseille reúne lojas de moda para um público jovem e pontas de estoque de grifes desejadas.
Não deixe de experimentar a boulangerie Du Pain et des Idées, uma padaria que data de 1889 e no começo dos anos 2000 foi comprada por um ex-executivo da moda, e teve sua decoração original mantida.
Outra dica imperdível é a loja Centre Commercial (leia-se grife de tênis francesa Veja), que vende quase tudo para o esporte feito com materiais ecológicos e sustentáveis e, seguindo pela rua, você vai encontrar várias lojas que só tem aqui.
Dois programões fazem parte do trajeto de barco pelo Canal, parte a pé. E ir conhecer o cinema 360º Geode, dentro de uma esfera que repete o formato do planeta.
Seguindo em frente vem a Bassin de La Villete, com lojas, bares, petit bistrôs, cafés e até cancha de bocha (pétanque), aproveite para conhecer a simpática loja Antoine & Lili e a livraria Artazart onde a pegada são livros de design gráfico, moda, fotografia e arquitetura.
São tantas as descobertas dessa área que é melhor sair flanando pelas ruas e ir descobrindo os seus próprios endereços nos lugares em Paris.
Arte em Paris
Há muita arte em Paris além do Louvre, do Grand Palais, e até do Musée D’Orsay.
Já que a proposta é ir além do circuito turístico, HIGH sugere uma visita a Fondation Cartier, um centro de arte contemporânea que traz exposições pontuais com foco em determinados tópicos ou obras de artistas das áreas de pintura, fotografia, artes cênicas e vídeo, para citar alguns.
No calendário está a mostra Cherry Blossoms, a primeira do pintor Damien Hirst na França, que reinterpreta a paisagem usando o pontilhismo e o impressionismo como inspiração e homenagem. As telas são imensas e cobertas por flores muito coloridas.
Outra boa dica é o Musée Yves Sant-Laurent, instalado desde 2017, onde era o ateliê do mestre da alta-costura, na Ave. Marceau. O acervo é composto por criações do mestre e é possível conhecer o estúdio onde ele desenhava seus modelos.
A Fundação Louis Vuitton é um espaço de arte contemporânea atípico, que existe desde 2014, no bosque Bois de Boulogne, em um prédio projetado pelo arquiteto Frank Gehry, que chama bastante a atenção.
Toda fundação é dedicada às artes de artistas franceses, ou não, que de tempos em tempos são exibidos, fazendo com que nenhuma visita seja igual a outra.
Na pauta da reabertura em 22 de setembro, pela primeira vez fora da Rússia, a mostra da Collection Morozov, com 200 obras dos irmãos Morozov, falecidos no começo do século 20. A mostra fica aberta até 22 de fevereiro de 2022.
Apesar de não ter um museu para chamar de seu, Coco Chanel tem sua maison na rue Cambon aberta, vez ou outra, para convidados especiais, e no momento está em exposição no Palais Galliera, o Museu de Moda da Cidade de Paris, com Gabrielle Chanel. Fashion Manifesto, em cartaz até dia 18 de julho de 2021.
Onde comer em Paris: uma das cidades campeãs em Estrelas Michelin
Paris está cheia de boas dicas, das mais tradicionais às mais descoladas. Veja onde comer em Paris!
Se tem uma coisa que francês sabe fazer é comer e beber bem. Anote esses endereços selecionados especialmente para HIGH, por quem sabe escolher onde almoçar, jantar, e prefere não se identificar.
Atenção! Vale a pena lembrar que muitos bares e restaurantes parisienses estão com horários restritos ou não abrem aos domingos e alguns nos finais de semana. É sempre bom reservar antes de ir, porque os lugares ainda são limitados:
Au Bon Accueil: um bistrô remodelado que serve a boa comida “du marché”, ou seja, da estação. 14 Rue de Monttessuy.
Le Cigalle Récamier: do chef Gérard Idoux, é definitivamente, onde se come os melhores souflés da cidade. 4 Rue Juliette Récamier.
Loulou: o novo restaurante do Louvre, em uma tenda do lado de fora do museu, o chef Benoit Dargère serve a deliciosa culinária do sul da França.
Le Café des Musèes: existem outros com o mesmo nome, a recomendação é o do Marais, fundado em 1924, que mantém a atmosfera dos verdadeiros cafés dos anos 1930. 49, Rue Turenne.
Septime: o cliente e o meio-ambiente são as preocupações do chef Bertrand Grébaut, de sua cozinha só saem pratos feitos com vegetais, peixes e a carnes da estação e criados de forma orgânica. 80 rue de Charonne.
Le Pergolèse: o chef Stéphane Gaborieau faz de sua culinária uma mistura da gastronomia clássica francesa com toques atuais. 40, rue Pergolèse.
Astrance: o chef Pascal Barbot busca inspirações de fora para reinventar a culinária francesa. 4, Rue Beethoven.
La Fontaine de Mars: é um típico bistrô francês com menu idem, a dona Christiane é conhecida da maioria dos brasileiros bacanas, e aconselha no verão pedir mesa fora. 129, Rue St. Dominique.
Les Fables de la Fontaine: o título remete às fábulas de La Fontaine, o restaurante é pequeno e aconchegante. 131, Rue St Dominique.
Garance: Guillaume Muller quer que seus clientes encontrem em suas refeições os sabores da fazenda de sua infância, de onde vem os ingredientes usados. 34, Rue Saint Dominique.
Le Train Bleu: fica na Gare de Lyon, em Paris, e foi aberto para a Exposição de Paris do começo do século 20.
Lazare: outro restaurante que fica em uma estação de trem, dessa vez na Gare Saint-Lazare, o chef Eric Frechon propõe uma culinária familiar e autêentica, como se você estivesse em família.
As dicas de Magdalena
A transada gerente da Maison Chanel abre sua agenda de restaurantes bacanas para HIGH.
@ laperruche
@ coya, indicado pela Vogue
@ la giraffe
O primeiro
O Le Grand Véfour pode ser considerado o primeiro restaurante fino de Paris, fundado em 1784 junto aos jardins do Palais-Royal.
O Le Grand Véfour ficou fechado alguns anos e reabriu suas portas em 1948, tornando-se o queridinho dos famosos e lugar de excelente culinária francesa do chef Guy Martin.
O Véfour tem uma decoração requintada, com quadros e móveis de veludo. Ah! eles pedem dress code.
17, Rue Du Beaujolais.
Diversão a la Parisienne
Imagine Mickey, Cinderela e Asterix e Obelisque juntos? Não! Cada um tem seu parque e pode fazer a alegria dos pequenos e grandes.
Quando o grupo Disney decidiu, em 1992, inaugurar a Euro Disney, pertinho de Paris, foi um Deus nos acuda. Os franceses não queriam de jeito nenhum que Mickey e sua turma invadissem a diversão em Paris.
Afinal, Asterix e Obelix, heróis locais, já tinham seu próprio parque. Depois de receberem uma média de 15 milhões de visitantes por ano, sem dúvida eles mudaram de ideia, e de nome, o parque passou a se chamar Disney Paris.
Bem menor que suas irmãs americanas, a Disney Paris é igualmente mágica, com sua tradicional parada na abertura e a queima de fogos antes de fechar.
E enquanto suas portas não abrem, o resort está sendo reformado, de olho nas comemorações dos seus 30 anos de vida.
Atrações como o castelo da Bela Adormecida, Piratas do Caribe, Mansão Fantasma, o Star Tours e as montanhas russas de tirar o fôlego, Space Mountain 2 e Rock’nd Roller Coaster inspirada na banda Aerosmith, são algumas das 40 atrações da versão parisiense da Disney.
Dentro do parque, sete hotéis cinco estrelas, restaurantes gostosos, como o Cendrillon, baseado na história de Cinderela, e lojinhas de souvenirs, como manda o figurino.
Parque Asterix e seus famosos gauleses
O Parc Asterix é onde se encontram os famosos e invencíveis personagens franco-belgas, Astérix e Obélix, e suas aventuras contra os invasores romanos, em um pequeno vilarejo 50 anos antes de Cristo.
Baseado na série de quadrinhos Asterix, de Albert Uderzo e René Goscinny, o Parc Astérix recebe 14 milhões de visitantes por ano. O parque fica a 30 quilômetros de Paris, em Plailly e é organizado em seis mundos: a Gália, o Império Romano, a Grécia, os Egípcios, os Vikings e Através do Tempo.
O barato, além das 31 atrações e brinquedos, são as encenações e interações com os personagens que acontecem sem hora marcada: de repente Chatotorix pode começar a cantar ou Ordemalfabetix a brigar com Automatix. Impossível comparar já que as propostas são completamente diferentes.
Jardin d’Acclimatation
Dentro de Paris, é o parque preferido das crianças pequenas, já que tem circo, teatro de marionetes, um pequeno zoológico, uma minifazenda, um relógio de flores, carrosséis, uma mini montanha russa, um riacho com passeios de barquinhos que navegam sozinhos, carrinhos motorizados e o Exploradôme, um moderníssimo espaço interativo dedicado às ciências, às artes e à multimídia.